Por que (ainda) estudar sobre as mulheres na arte?
Alguns aspectos que limitaram e limitam suas produções e pesquisas
Sabemos que muita coisa mudou e as mulheres estão produzindo e ocupando espaços importantes mais do que nunca. Contudo, a construção de uma visão sexista da história da arte foi tão consolidada (durante séculos) que ainda temos muito o que falar. Apresento aqui alguns aspectos que limitaram as mulheres que almejavam seguir uma carreira artística.
(mas nem por isso deixaram de produzir, é claro!)
Enquanto homens eram vistos como “gênios”, mulheres eram incentivadas na pintura para serem socialmente agradáveis (terem “bom gosto”) e se ocuparem no dia-a-dia na segurança de seus lares;
As mulheres foram consideradas amadoras até pouco tempo. O amadorismo é o oposto ao profissionalismo;
As mulheres artistas eram vistas como copistas e sem imaginação;
Suas ambições artísticas eram menosprezadas e consideradas descabidas para um mulher;
Muitas vezes tinham que se limitar a produzir obras com temas considerados “menores”. Embora todos os gêneros pictóricos tenham sua importância em contextos específicos;
Além dessas limitações impostas, a história da arte hegemônica foi escrita por homens a partir de um olhar sexista em que as mulheres eram vistas como inferiores. Seus nomes e realizações foram apagados através da escrita e omitidos dos espaços institucionais.
Como escreveu Griselda Pollock:
"A história da arte (...) deve ser, acima de tudo, um exercício historiográfico. A sociedade é um processo histórico, não uma entidade estática."
Desse modo, entendemos que nosso trabalho aqui é mais do que nunca necessário e contínuo. Como dito anteriormente, acompanhamos nos dias de hoje uma mudança significativa. Contudo, ainda temos que trabalhar para que a história da arte lida e estudada nos próximos anos seja composta por aspectos muito diferentes do que vimos até então.
Nosso curso Mulheres artistas na história da arte (conhecido como MAHA) está com inscrições abertas e contou até aqui com cerca de 1200 participantes. Muitas pesquisas nasceram desses encontros.
Serão sempre poucas edições por ano, já que temos outros cursos e projetos em andamento. Essa será a último do ano!
Sobre o curso:
Ao olharmos mais atentamente o estudo e a escrita da história da arte vemos a repetição de diversas concepções que enfatizam a natureza individual da criatividade e genialidade de homens brancos. Iniciamos nosso curso com três aulas que previnem criticamente os métodos usados pela história da arte para construir a imagem de artista genial e as limitações de artistas classificadas como "mulheres" dentro de uma sociedade patriarcal e sexista. Além disso, apesar do curso seguir uma proposta linear nosso objetivo é desconstruir uma história da arte dominante para refletirmos sobre os cânones vigentes.
Para além de uma história somente pautada por biografias e anedotas, o que buscamos é refletir sobre estas produções dentro de contextos e ideologias problemáticas. E o mais legal é que depois de fazer este curso você nunca mais vai olhar para a arte do mesmo jeito. Em todas as edições temos mantido o compromisso de oferecer bolsas integrais para pessoas que não podem pagar o curso, porque acreditamos que o ensino e a arte podem ser transformadores. (todas as vagas para as bolsas já foram preenchidas nesta edição!)
É um dos cursos mais completos sobre o assunto que abrange a produção de artistas mulheres desde o século 16 (dando uma passada na antiguidade e idade média) até a contemporaneidade abarcando também produções para além da europeia e norte americana.
Quando, como, onde?
De 24 de setembro a 26 de novembro (serão 10 aulas ao vivo + 5 aulas gravadas)
Todas as terças de 19 às 21h pelo Zoom*
*Todos os 10 encontros ao vivo serão gravados e disponibilizados por 2 semanas para quem não puder estar presente
Obs: As imagens utilizadas nesse texto são do coletivo Guerrilla Girls.
De qual livro da Griselda Pollock é a frase que você menciona? Fiquei muito interessada. Fiz o curso sobre Mulheres Artistas há alguns anos e estou dando continuidade aos meus estudos.